sábado, 5 de fevereiro de 2011

Eu mesma...


Deve ter um cartaz de "amiga" colado na minha testa. Não é possível (risos!). Incrível como a gente negocia nossas identidades, né?

Minha amiga me disse esses dias: "Ou vc só tem procurado caras errados, ou você faz os caras certos agirem errado com você!" risos.... Isso é genial, porque eu não sei o que é pior! =) ... Mas o fato é que um acontecimento aparentemente cotidiano pode desencadear em mim um processo de reflexão tal que eu não consiga fazer outra coisa a não ser divagar. É exatamente este o caso. Então, vou divagar por escrito.
Como é que as nossas identidades são construídas, hein? ... Traduzindo: a gente diz que a gente é isso ou aquilo, não é? Tímido, ou extrovertido, ou nervoso, ou tranqüilo, ou brigüento, ou sociável, (etc.) ... não é? O que é que nos constitui de um jeito e não de outro? Será que nós realmente somos o que achamos que somos ou apenas reiteramos cotidianamente nossos comportamentos? Existe alguma essência que construa subjetividade? Ou... será que a identidade é uma reiteração?
Há uma área interessantíssima nas ciências humanas que se dedica a estudar com calma essas questões. Quando começo a ler esses caras, tenho sensações quase orgásmicas. O Stuart Hall, o Du Gay, a Segato, a Woodward, o Tadeu da Silva, e blá, blá, blá.... Mas não vou fazer reflexão teórica, porque tô com preguiça de digitar.... mas já pararam pra pensar o que constitui nossa identidade afinal? A gente acredita que é de um jeito ou de outro e tenta projetar essa imagem. Mas por que a gente acha que é quem acha que é? E por que a gente não acha que a gente é qualquer outra coisa? E será que a gente é mesmo alguma coisa ou tudo não passa de uma performance criada pela nossa cabeça, negociada constantemente com os outros e repetida através do nosso comportamento???!!
Quem nunca filosofou gostoso comigo em uma mesa de bar e tá lendo esse texto deve achar que eu surtei e tô ficando maluca. Pode até ser. Mas aff... pára pra pensar! Por que motivo a gente investe em determinadas narrativas, histórias, identidades e não em outras???
Hoje me mostraram uma carta de amor bem romântica. Não era pra mim. Minha reação inicial foi:"credo, se fosse pra mim eu ia sair correndo assustada, essa carta é apaixonada demais!". Puta que o pariu, presta atenção né?... eu ia adorar receber aquela porra daquela carta (aos desavisados, eu penso melhor com palavrões!), então por que eu fiz aquela cara de nojo de eu-nunca-li-uma-carta-tão-brega?
Me lembrei do dia em que o namorado que mais significou pra mim nessa vida me disse bem sério que ia casar comigo... eu fiz cara de "tá maluco, doido?" e dias depois disse que não queria marido e, muito menos, filho -- o maior sonho da vida dele. Uma idiota. O namoro acabou pouco tempo depois. E o pior? Bem lá no fundo eu queria....
A verdade é que sempre quis negociar a imagem da mulher bem resolvida, independente, incrivelmente assediada, que não precisa de ninguém e que sozinha faz o mundo girar. Mas as pessoas têm que ser muito inocentes pra "comprarem" isso o tempo todo, né? Ninguém faz o mundo girar sozinho e eu cansei de fingir. Não quero ser auto suficiente, não quero fugir do risco de ser um fracasso, nem quero fechar meu coração pra não me apaixonar por medo de sofrer. Se fosse hoje (com tudo aquilo que eu sentia na época), eu ia olhar no olho do indivíduo (depois de um beijo de cinco minutos!) e ia dizer "eu te amo", palavras que ele nunca ouviu da minha boca. Cansei de negociar a imagem da mulher totalmente bem-resolvida, porque nem a mim mesma ela convence mais. Como todo mundo, eu sou um bichinho desorientado às vezes, que sofre pra caramba, que se frustra, se arrepende, se dá mal, mete os pés pelas mãos e por que não? Forte, sim; decidida, sim; mas "quebrável", como outra qualquer...
Mas esse troço dessa negociação de identidade é um trem difícil demais!... Ah nem.... Acho que vou esquecer essa porcaria por hoje, ir lá na locadora pegar uma comédia ou um romance pastelão, morrer de rir ou de chorar na frente da TV, comer pipoca e ir dormir com todas as crises existenciais parcialmente apagadas pelo menos até outro desencadeador de reflexão avassalar meu fim de semana... que droga....
Mas que a tal da carta era bonitinha, ela era. Fiquei morrendo de vontade de dizer.

Nenhum comentário: